Aventuras em Manaus

Capital do Amazonas, meu primeiro contato com a região norte do país.

Encontro das águas - Rio Negro e Solimões formando o Amazonas

Na conexão em Guarulhos, no ônibus que leva os passageiros até o avião, encontro 2 paulistas conversando: “minha mãe disse que temos que nos programar pra fazer tudo antes ou depois do horário da chuva”. Me meti: “e qual é o horário da chuva?” E com isso, acabei puxando conversa com eles, estudantes de turismo, indo a Manaus fazer um trabalho da universidade sobre as cidades-sede da copa.

No avião, longas 4hs de vôo sobrevoando o nada – como viajei à noite, só se via uma imensidão negra lá embaixo, salpicada por muito poucas luzes de vez em nunca... e eu imaginando onde será que estamos? Será que já cruzamos o Mato Grosso? Já entramos em território amazonense?

Ao pousar, recebo uma ligação da querida Ju Teles, aieseca manauara, que eu tinha conhecido em 2012, em uma conferência da AIESEC e havia contatado antes da viagem, para ter uma guia local para me ajudar a explorar a cidade. Ela estava me esperando no desembarque, pra me dar uma carona até o hotel! :)

No dia seguinte, saí para explorar a cidade. Meu hotel era bem no centro (Av. Sete de Setembro) e, subindo a avenida ao lado, cheguei ao Teatro Amazonas. Lindo! Descobri que estava acontecendo um festival de ópera e não tive duvida: comprei ingresso para ir à opera (e aproveitar para conhecer o teatro por dentro)! 

o Teatro Amazonas

Saindo do teatro, triste de não ter fotos minhas com ele, encontro de novo os dois paulistas... Oba! Foto!! E acabei me juntando a eles para andar pela cidade – e assim tive companhia (muito agradável, por sinal!) para as aventuras desse dia.

Teatro Amazonas e eu

Passamos pelo Palácio da Justiça, pelas informações turísticas e rumamos ao Mercado Público. O centro/região do porto de Manaus é como a maioria dos centros de cidades grandes no Brasil: sujo, muito lixo nas ruas, muita gente e muitos camelôs. O Mercado Público foi reformado recentemente e é todo de estrutura metálica com vidro, muito bonito. E por dentro, achei até bem limpo e organizado. 

Mercado Público

Na frente do mercado, ele: o Rio Negro! Lindo, de águas escuras avermelhadas (cor de chá-mate, como me disse depois um manauara)... Fomos até o porto, vimos as pessoas esperando os barcos – dali partem barcos para diversas cidades na Amazônia... o transporte fluvial parece ser mais comum do que o por terra nessa região... e andar de barco parece ser um exercício de paciência, pois são horas e horas no balanço do barco – e das redes penduradas no convés... mas parece ser uma experiência interessantíssima (quem sabe um dia eu volto pra fazer Manaus – Belém?)

o Rio Negro!!! - no Porto de Manaus

Depois dali (e de comprar redes – não de pesca, de deitar!), resolvemos seguir a sugestão da Débora e ir fazer um passeio muito legal: ir ao Museu do Seringal.

Para chegar lá, pega-se o ônibus 120 (Ponta Negra) até o final da linha. Lá, caminhando uns 100m está a Marina do Davi, de onde saem barcos regulares para as comunidades que ficam nos Igarapés do Rio Negro, incluindo a Vila Paraiso, onde fica o Museu. (Igarapé é um braço do rio, que entra no meio da selva)

de barco pelos igarapés do Rio Negro

O Museu é muito legal! Ele foi feito para ser cenário do filme “A Selva”, que conta a história de um seringalista português. E a nossa guia no museu detalhou poeticamente toda a história. Assim, conhecemos a casa onde ele morava, a casa do capataz, as casas dos seringueiros (que eram sobre palafitas por causa das onças!), a capela onde os seringueiros se confessavam (e depois o falso padre contava ao seringalista tudo o que tinha ouvido), o livro das dívidas que os seringueiros contraíam – e nunca conseguiam pagar –, as ferramentas de trabalho dos seringueiros... e, o mais legal de tudo, o processo de extração da borracha!

Museu do Seringal Vila Paraíso

Vi como se fazem os cortes na seringueira, como é colocado o copinho, vi a seiva escorrendo para dentro do copinho, coloquei na mão um pouco da seiva e, esfregando com o dedo, a seiva aos poucos se torna pedacinhos de borracha! Também conhecemos o processo de preparo, onde a seiva é colocada sobre um pedaço de pau que é aquecido na fumaça, depois uma nova camada de seiva é colocada e o processo se repete por aproximadamente 1 semana, até se obter um pedaço de borracha de 50kg – que era então vendido. Também vi esses rolos gigantes de borracha (e brinquei de jogar um rolo de 11kg no chão e ver ele quicar).

extração da seiva da seringueira

Processo de fabricação da borracha

a borracha pronta

Ainda no museu, vimos como é feito o processamento da mandioca brava para se tornar farinha (e tucupi e goma de mandioca): a mandioca é ralada e colocada em uma “prensa”, onde é esticada (e isso é o que a faz prensar) e solta a goma e o caldo amarelado e ácido (o tucupi), que é usado para muitos pratos amazonenses. Depois, a massa que sobra é peneirada e assada.

Depois do museu, pegamos novamente o barco e fomos até a Praia da Lua, uma praia de rio, também em um igarapé do Rio Negro. O nível do rio estava bem alto (maio é quando está terminando a época de chuvas e começando a época seca – ou o verão – e por isso o rio está tão cheio). Dizem que em outubro/novembro o rio vai estar bem baixo e a faixa de areia na praia será muito maior. 

Se a cor da água já tinha me impressionado lá no porto, na Praia da Lua fiquei ainda mais encantada! É uma água escura, avermelhada, mas ao mesmo tempo transparente! Perguntando aos locais o porquê da cor da água, ouvi diversas teorias: que é devido à acidez da água; que o Rio Negro contém muitos resíduos de plantas, folhas, raízes da floresta e é isso que dá a coloração da água; que por não desbarrancar as terras ao lado do rio a água não fica barrenta como o Solimões; e que é devido ao ferro (ou outros minerais ferrosos) que a água fica avermelhada... Não sei qual é a teoria certa, mas o banho no Rio Negro pra mim foi o ponto alto de Manaus!

Praia da Lua - observe a cor da água do rio!!

Ficamos na água até o final da tarde e, quando pegamos o barco pra retornar para a cidade, fomos presenteados com um lindo por do sol no rio! 

por do sol no Rio Negro - Praia da Lua

voltando de barco pelo rio

Já em Manaus, passamos pela Ponta Negra, praia urbana da cidade. A Ponta Negra foi reformada recentemente para ter praia permanente (mesmo na cheia do rio) e agora conta com uma infraestrutura muito legal: mirantes para ver o rio e o por do sol, calçadão arborizado para caminhar ou andar de bicicleta, quadras de esporte, um anfiteatro e alguns barzinhos, barraquinhas de açaí, tacacá, etc. E a praia estava bastante limpa para um final de sexta-feira no meio de um feriadão... e é claro que tomamos mais um banho delicioso no Rio Negro, que agora já estava totalmente negro pois já era noite.

Praia da Ponta Negra

De volta ao centro, a programação noturna foi uma aventura culinária: provar o famoso tacacá! O tacacá é um prato feito com tucupi (o caldo amarelado e ácido extraído da mandioca brava – e que, se consumido cru, é venenoso!), goma de mandioca (que disseram que é pra quebrar a acidez do tucupi), jambú (uma folha que dizem que causa uma leve dormência na língua e na boca) e camarão seco (que também pode ser substituído por carne ou peixe em outros lugares). O tacacá é servido em cuias, ele é tomado (e as folhas e o camarão são pegos com um palito pra comer) e deve ser comido bem quente – e ele dá um calorão mesmo!

comendo tacacá com o Alisson e a Raquel, meus companheiros de passeio

Tomamos o tacacá na praça que fica em frente ao Teatro Amazonas, região super agradável de ir à noite: cheia de barzinhos, restaurantes, sorveteria... todos com mesinhas nas ruas e muitos com música ao vivo.

a praça em frente ao Teatro Amazonas - de dia

No dia seguinte, o passeio foi fazer stand up paddle (SUP) em um igarapé do Rio Negro. Eram 2km de travessia (de ida, depois ainda tinha a volta!) até chegar a um igapó, onde podíamos relaxar deitados nas pranchas ou tomando banho no rio... 

no meio do igapó, curtindo a natureza e o contato com a floresta :)

Igapó é uma região alagadiça que durante a cheia do rio fica submersa (só com a copa das árvores pra fora) e seca durante o verão. Como era época de cheia, tínhamos que cuidar pra não dar de cabeça num galho – e pra prancha não bater também.

Pra quem nunca tinha feito SUP na vida, até que me saí bem! :) Afinal, não é todo dia que a gente cruza o Rio Negro em uma pranchinha, né?

eu e a Ju no SUP

Depois do SUP, almoço (afinal, foram 4hs sob o sol, remando e nadando) e partimos rumo a um mirante que pouquíssima gente conhece e de onde é possível observar o encontro das águas sem precisar ir de barco até ele...

E a vista do mirante é realmente linda!! Dá pra ver perfeitamente o Rio Negro e o Solimões correndo lado a lado pra formar o Rio Amazonas. Devido a diferenças de acidez, temperatura e velocidade, os dois rios percorrem quase 10km sem se misturar... e dá pra ver direitinho o Rio Negro mais escuro e o Solimões mais barrento como se fossem divididos por uma linha imaginária... 

o encontro das águas visto do mirante

Pra completar o dia, ainda fui assistir a ópera e conheci o Teatro Amazonas por dentro... muito lindo! 

o Teatro Amazonas por dentro

E as experiências no Amazonas não param por aí, já que depois de Manaus voei para Tefé, onde vou passar 1 semana... mas aí fica pra outro post! 

Comentários(3)

São João del Rei

Em São João passeei pela cidade que refletias com teu olhar quando observavas as ruas, as casas, as paredes da universidade... 


Segui teus passos pela cidade sem saber se estávamos em 2014 ou em 2004, sem saber se o que eu via estava lá de fato ou havia estado e me relatavas com tuas memórias.

Subi contigo as ladeiras que te levavam todos os dias a um novo desafio, senti tua dor ao ver que algumas coisas não estão mais lá – e senti que algo de ti também não está mais – mas encontrei em São João o que levas dentro de ti: a tua força. E junto contigo, colhi pedaços teus pelos caminhos que percorremos.


Nos teus reencontros com personagens do passado vi brilhar em teus olhos a luz que te fez ficar quando parecia que terias que desistir. E não pude deixar de notar o orgulho e a admiração deles por quem tu te tornaste.

A cada passeio, quando me apontavas tuas casas, tua sala de aula, teus lugares de trabalho... fui montando o quebra-cabeças que te faz ser quem és hoje.

E nesse caminhar pelo passado, conhecendo a tua São João, entendi que, como a cidade, tu és feito de pedra e estanho – mas manténs a suavidade e a leveza das rosas que florescem por todos os jardins de São João...


Comentários (1)comentários