O carnaval de Recife e Olinda é o carnaval mais cultural do Brasil. São vários ritmos musicais, muitas manifestações populares e culturais... tem frevo, maracatu, samba, mpb, rock... tem caboclos de lança, caboclinhos, afoxés, encontros de bois e ursos, escolas de samba, blocos líricos... tem ladeiras e blocos de rua, tem palcos e shows de diversas bandas e diversos ritmos... é realmente um carnaval multicultural!
E todo mundo - crianças e adultos, jovens e velhos - vai pras ruas fantasiado para brincar em um carnaval democrático e pacífico (não vi roubos, furtos nem grandes confusões!)
E eu fui conferir esse carnaval tão lindo!
Fui recebida, na abertura do carnaval de Olinda, por Alceu Valença cantando "Voltei Recife"
"Quero sentir a embriaguez do frevo que entra na cabeça, depois toma o corpo e acaba no pé" (Alceu Valença)
Ainda na primeira noite conheci mais da cultura olindense, com a Orquestra Contemporânea de Olinda. Depois do show fui para o tradicional Xinxim (bar local) onde aprendi passos de coco com um pessoal super animado que tocava ciranda, coco e frevo no pandeiro! Isso além de fazer amigos olindenses!
Na 6a feira foi o dia da abertura do carnaval do Recife. No Marco Zero iluminado, me emocionei com Milton Nascimento e me diverti aprendendo as letras dos frevos mais famosos, cantados por diversos artistas pernambucanos e brasileiros.
"Queiram ou não queiram os juízes
O nosso bloco é de fato campeão
E se aqui estamos, cantando esta canção
Viemos defender a nossa tradição
E dizer bem alto que a injustiça dói
Nós somos madeira de lei que cupim não rói"
(Capiba)
O sábado começou cedo, nas ladeiras de Oinda, onde vimos passar diversos blocos de maracatu e frevo, em frente à prefeitura toda decorada para o carnaval. À tarde encontrei com o pessoal do Couchsurfing para curtir o bloco "Tá bom, a gente freva", um pessoal que gosta de rock e que, no carnaval, toca de Beatles a Michael Jackson - tudo em ritmo de frevo!
Também tive a experiência de descer arrastada pela multidão do bloco "Eu acho é pouco", um dos mais famosos e amados de Olinda, enquanto cantavam
"Olinda! Quero cantar a ti esta canção
Teus coqueirais, o teu sol, o teu mar
Faz vibrar meu coração, de amor a sonhar
Em Olinda sem igual
Salve o teu Carnaval!"
(Hino do Elefante)
E à noite, no Marco Zero, me embalei ao som de Zelia Duncan. Mas foi Lenine - que parece ser o artista mais querido de Pernambuco - que fez o que foi, para mim, o melhor show do carnaval. Ele tocou por 2 horas incansáveis, todos os seus sucessos. E me arrepiei quando, ao voltar para o bis, Lenine anunciou: "Vocês achavam mesmo que eu ia embora sem tocar Leão do Norte?"
"Eu sou mameluco, sou de casa forte
Sou de Pernambuco, eu sou Leão do Norte"
(Lenine)
E aí eu me senti pernambucana e me uni ao coro que gritava "Ah, é Pernambuco!"
No domingo conheci o humor ácido do "
Quanta Ladeira", bloco que faz paródias tirando sarro de todos os temas atuais...
"Fizeram um parque esquisito na praia de Boa Viagem
Botaram dois prédios redondo em formato de cu
O parque é feio de cima, de costas e de frente
Fizeram tudo diferente
Fuderam a mãe do presidente
A Dona Lindu"
(no ritmo de "La Belle de Jour")
Depois vi passar os
caboclos de lança do maracatu rural, com suas belíssimas e pesadas fantasias, cantei com Zeca Baleiro, conheci Otto (cantor pernambucano) e pulei e gritei muito no show dos Titãs.
Depois do show, ainda esperamos o dia raiar na ponte que liga o Recife Antigo ao bairro de São José... e me admirei com a beleza do cenário formado pelas pontes e o Capibaribe ali no centro do Recife.
Na segunda-feira aprendi passos de frevo seguindo o Bloco da Ema pelas ladeiras de Olinda, conheci o Pátio de São Pedro, no centro do Recife, onde vi tocar a Orquestra Rockfônica de Frevo (uma orquestra completa de frevo que toca sucessos do Kiss, Metallica e outros! genial!!)
Também vi desfilar vários blocos de maracatu no palco afro do Pátio do Terço, admirei a beleza das fantasias dos personagens do
maracatu e as batidas fortes das alfaias. E terminei a noite sendo abençoada pelas orações da Noite dos Tambores Silenciosos.
No último dia do carnaval, comecei o dia vendo o desfile de Bonecos Gigantes de Olinda. Depois passei o dia com o bloco da Zebra, do bairro de Umuarama, Olinda, onde fui recebida com muito carinho por todos. Subi e desci ladeiras dando meus passinhos de frevo... e depois, umas horinhas de descanso para aguentar a noite, que prometia!
E à noite enfrentei a multidão do Marco Zero para dançar ao som de Elba Ramalho, cantar com Caetano Veloso e coroar a noite com o show que, para mim, é a tradução do carnaval do Recife: Alceu Valença no Marco Zero!!
Mas a noite não terminava por aí! Sentados no chão do marco zero, vendo os prédios iluminados, me emocionei vendo os fogos de artifício e as diversas orquestras de frevo saudando o amanhecer!
"É lindo ver ver o dia amanhecer,
ouvir ao longe pastorinhas mil,
dizendo bem, que o Recife tem,
o carnaval melhor do meu Brasil"
E depois de tocar todos os frevos que aprendi nesses 6 dias de carnaval, tocaram o hino de Pernambuco, que foi cantado em coro pela multidão:
"Salve! Ó terra dos altos coqueiros!
De belezas soberbo estendal!
Nova Roma de bravos guerreiros
Pernambuco, imortal! Imortal!"
E dali, seguiram todos - orquestras de frevo e toda a multidão que ainda persistia em brincar o carnaval - pelo marco zero, nos últimos passos de frevo do carnaval.
"É de fazer chorar, quando o dia amanhece e obriga o frevo acabar
Oh quarta-feira ingrata chega tão depressa só pra contrariar"
E assim, exausta e feliz, fui embora as 8h da manhã, depois de 6 dias de folia. Obrigada ao meu guia olindense que me apresentou o melhor carnaval do Brasil através de seus olhos! :D