Acidente
Eu acordei e estava no carro. Senti dor, percebi que o carro estava parado. "Ai, que aconteceu?" Logo, me dei conta que o Josué estava "de pé" na horizontal... com os pés na minha direita e a cabeça na minha esquerda... "Então eu não devo estar sentada". "Merda, nos acidentamos! O carro está de lado! Quero sair daqui! Me tira daqui!"
Tirei o cinto de segurança. Me levantei. Pisei cacos de vidro... "Já não tem janela no carro". Coloquei a cabeça pela janela "de cima"... "Merda, estamos em um buraco!" A estrada estava mais alta que o carro e estávamos meio longe dela... "Como vamos sair daqui?"
Era noite. Tudo estava escuro. Estávamos em Watsi, uma comunidade indígena na zona de Talamanca. (ver mapa) Os índios estavam todos dormindo... ninguém por perto pra nos socorrer... ambulância e polícia menos ainda...
"Josué, quero sair daqui!" Não dava pra ver onde o carro estava, mas eu escutava barulho de água... "Espero que o carro não continue caindo e girando! Quero sair daqui já!! Vou chamar uma ambulância." Abaixei pra dentro do carro, apalpei o banco de trás, onde lembrava que estava minha bolsa... não encontrei... o banco parecia não estar no lugar certo, já que encontrei um tronco ao invés da minha bolsa. Acendi a luz do carro. Tinha um tronco de mais de 30cm entrando pela janela do carro... apalpando um pouco mais, descobri que minha bolsa tinha caido pela janela e estava embaixo do carro. Puxei-a e consegui resgatá-la. "Está tudo aqui? Dinheiro, documentos, celular? Sim." Mas o celular não tinha sinal...
O Josué subiu em cima da lateral do carro, saindo pela janela "de cima". É, esse vai ser o jeito de sair. Coloquei minha bolsa em cima do carro, peguei minha mochila também. Me impulsionei com as duas mãos até conseguir sentar na porta do carro. "E agora?" Levantei de pé, joguei bolsa e mochila na estrada. Caminhei até a parte do carro que estava mais perto da estrada - a roda. Tentei pisar na roda, ela girou. "Josué, vai tu primeiro." Ele foi, pisou no meio da roda e pulou pra estrada. "Deu certo!" Eu fui também, pisei no meio da roda e me joguei pra frente. Ele me segurou pelos dois braços e me puxou pra estrada. "Consegui!"
E aí eu comecei a chorar... já estava "em terra firme", se o carro continuasse girando, não me levaria mais... Coloquei a mão no rosto... "Dói! Muito!" Senti um inchaço, minha cara devia ter o triplo do tamanho... quando tirei a mão do rosto, sangue! "Aii, to sangrando!!!" O Josué me olha e só consegue dizer "Desculpa!" "A culpa não foi tua, vamos procurar ajuda"
Saí caminhando, encontrei uma casa com luzes acesas. Fui até a porta, bati várias vezes, chamei. Ninguém. Os cachorros começaram a latir... fiquei com medo que viessem me atacar, voltei. "Será que o hotel está muito longe?" (afinal, estávamos indo em direção ao hotel pra dormir...) "Vou caminhar até encontrá-lo, não importa que tenha que andar 2 horas." Comecei a caminhar.
"Bárbara, não corre!" "Josué, tu consegue caminhar? Machucou as pernas?" "Sim, eu consigo caminhar." "Então vamos!" E continuei... vi mais casas com luzes, mas todas muito longe da estrada... segui em frente... depois de uns 800 metros, vi uma quadra de futebol que tinha visto de manhã, quando saimos do hotel... "Josué, acho que o hotel está logo em frente!!" Mais uns passos... "Graças a Deus!! O hotel!!"
Tinha uma guria, hóspede, tomando uma cerveja ali na frente. Quando ela me viu fez uma cara de susto que me deu medo... "Nossa, minha cara deve estar mesmo feia!" Fui no banheiro, lavei o rosto. "Merda, tenho um corte na bochecha e vários arranhões na cara... e minha cara tem três vezes o tamanho normal!"
O Josué foi de novo até o carro, buscar os computadores e a mochila dele. A guria foi ajudar ele. Eu fui pedir os quartos... e gelo! "Desculpa, mas o restaurante está fechado e abre só as 6hs da manhã." - disse o segurança, único funcionário do hotel que estava ali.
O Josué voltou com as coisas. "Como tu está?", perguntei. "Dói meu ombro. Acho que desloquei. E acho que quebrei o dedo." Fomos (tentar) dormir. Antes, tomei um banho gelado (maldito hotel! não tinha água quente!)... minha roupa tinha cacos de vidro. Eu tinha terra até dentro do nariz. Meu cabelo tava duro... de terra e sangue...
Foi uma noite horrível. Não podia dormir com o lado machucado pra baixo, porque a dor era insuportável. Não podia dormir com o lado machucado pra cima, porque sentia o sangue latejando no rosto inchado e a pressão era muito forte e me dava muita dor de cabeça. E eu não tinha nem um paracetamol! Coloquei os travesseiros nas costas e cochilei sentada.
As 6hs da manhã fui no restaurante. "Quero gelo!" Me deram uma sacola cheia. "E alguém tem algum comprimido pra dor?" Um senhor que estava tomando café foi até o seu quarto e me trouxe uma cartela de paracetamol! :) Voltei pro quarto, tomei 2, coloquei o gelo numa toalha e coloquei no rosto. Aliviou muito! E aí dormi até as 10hs...
Aí o Josué veio, me acordou e disse que tinha ido ver o carro. Tinha negociado com uma grua pra tirar o carro do buraco... eles viriam depois do meio dia. Dei um dos meus paracetamois pra ele e decidimos sair pra procurar ajuda médica. Fomos até Bribri, um povoadinho a 5km de onde estávamos. Pros parâmetros da região, Bribri é grande. Mas lá não tem nem um posto de saúde, nem uma farmácia! Fomos na cruz vermelha, nos olharam. "Deve ser só golpe. Vocês deveriam ir a uma clínica pra tirar raio-x." Fomos até o posto de saúde mais próximo (mais uns 5km). "Cédula?" "Não temos, somos estrangeiros." "Ah, então são 35 mil colones cada um." (aproximadamente 130 reais! cada um!) "Não temos esse dinheiro." Voltamos pro hotel.
"Vocês são os que estavam no carro que está lá no buraco?" - perguntou o motorista do taxi que nos levou até o hotel. "Sim." "Ah, recém passei por lá. Tem um monte de gente... e cheiro de gasolina." "Hmm, vamos até lá, ver o que aconteceu." Ver o carro no buraco, agora de dia, me assustou. "Como foi que eu saí daí?" O Josué me explicou o que aconteceu... a estrada de terra desmoronou quando passamos (passamos muito na borda da estrada) e por isso caímos. Por sorte íamos devagar então caímos de lado e não de frente naquele cano de concreto que dá pra ver na foto.
Desci até o carro, pra ver por dentro... Olhei no porta-malas, minha havaiana estava lá! Com um galho consegui resgatá-la! De manhã o Josué tinha salvo meu tênis, minha cuia e a térmica... e eu queria achar meu pacote de erva-mate... Não estava mais... Ou caiu do carro ou alguém levou (decerto achando que era droga :P). Fui olhar pela janela... vi o banco onde eu tava sentada... e o tronco que entrou pelo meu lado (eu fiquei embaixo, já que o carro caiu pro lado direito)... a centímetros da minha cabeça!! Comecei a chorar de novo, pensando na sorte que eu tenho de estar contando a história!
(Sim, a foto é assim mesmo! Não tente virar o computador! Essa é a posição do carro, o banco que aparece é onde eu tava sentada e esse é o tronco que bateu na minha cara)
Fomos almoçar... comi só um ovo mexido, porque não conseguia mastigar nada consistente... o rosto doía demais. Depois a grua tirou o carro do buraco... parecia um carrinho de brinquedo sendo carregado pelos dedos de uma criança. Deixamos o carro na casa do cacique. Ele nos preparou café e platanos maduros fritos (que também é molinho e eu consegui comer). Agradeci sem sorrir, já que sorrir também era difícil... O cacique nos deu sua benção. Agora com certeza vamos melhorar!
Já eram 4 da tarde e Talamanca fica longe de San José (6 horas). Ficaríamos lá mais uma noite e no dia seguinte conseguiríamos alguém pra vir nos buscar. Depois de muitas ligações, pedidos de ajuda, achamos alguém que nos buscasse. Fomos dormir com as galinhas... o cansaço e a dor nos venceram...
No domingo veio um senhor de uma das empresas de crédito que temos em Turrialba (outra região da Costa Rica) e nos levou de carro. Passamos em uma clinica onde finalmente um médico nos viu. Ele disse que eu não tinha quebrado nada, que a dor no braço e no rosto eram só da pancada. Me deu anti-inflamatório e mais paracetamol. E pro Josué, disse pra fazer raio-X no ombro e no dedo. Voltamos pra San José.
Isso foi há mais de 1 semana. Então não se preocupem, já estou bem! :)
Quando voltei a San José, acionei meu seguro do Brasil e me consultei decentemente. Não tenho nenhuma lesão, trauma, sequela... só tenho um ossinho quebrado no rosto, que vai curar sozinho, porque não tá afetando meus movimentos (e porque não tem como engessar o rosto, né? :P)... e tenho várias fotinhos legais do meu crânio... Já dói bem menos, já voltei a trabalhar e, como o médico disse que o osso vai curar sozinho e que é pra eu levar a vida normalmente e aproveitar a Costa Rica, segui suas recomendações e fui passar o fim de semana na praia! :)
Oi Bárbara, que bom saber que você já está melhor. Desejo uma recuperação bem rápida para que você possa aproveitar bem a Costa Rica.
Abraços daqui da Guatemala!
einnnn?
jesus, que susto.
ao final nada se quebrou né?
assim esperamos.
um abraço.
Heeeein? Que bom que está bem!
Fiquei pasmo com a história.
:(
Rapha, Renata, Diogenes... obrigada pelas mensagens!! :)
Sim, ta tudo bem já... nao se preocupem! :)
beijos!!
Bárbara querida! Que susto! Ao ler ser post lembrei de quando fui atropelada, com 9 anos de idade... foi um baita susto também!
Muito bom saber que está bem e que não aconteceu nada grave, só inchaços. =)
Beijos, se cuida!
Ui Barbara...que coisa. Pelo menos estás bem. Que te recuperes pronto!
Quando comecei a ler, pensei que fosse o relato de um sonho, de um texto de um livro pra escrever, algo assim. Nossa Senhora que susto!! Fico feliz por saber que vocês estão bem.
Que acidente hardcore! Que bom que no final deu tudo certo. Bjs.
Putz! Mas que bizarro! Que bom que tá tudo bem. :*
Marina, Glenda, Karol, Nano, Jota... obrigada pelas mensagens! :)
beijao!